Desesperada, Demi olhou para a janela,
com vontade de fugir, mas era tarde demais. Alberto já estava de volta à sala,
acompanhado por Joseph, o homem com quem passou a noite. Seu amante!
Joe seguia o anfitrião, que lhe mostrava
o caminho. Alberto o apresentou aos demais presentes, mas, assim que entrou, Joe
não conseguiu escutar mais nada. Furioso, e sem acreditar no que via, olhou
para Demi.
Ela estava de pé, perto da janela, e
encarava-o com uma expressão de vitima, sem dizer uma palavra, os olhos
arregalados de angústia.
O que significava aquilo? O que ela
estaria fazendo ali? Joe percebeu então que Alberto a apresentava como a
professora da escola local.
Joe se sentiu
como se estivesse no meio de uma farsa. Sabia que no campo as coisas eram
diferentes, mas não ao ponto de uma professora de vila se transformar, com o
cair da noite, em garota de programa.
De repente, um ataque silencioso de ciúme
se apossou dele, e Joe sentiu uma antipatia gratuita pelo homem ao lado dela.
Alberto: E este é
Logan, meu assistente e primo de Demi — explicou.
O primo dela. Aliviado, Joe livrou-se
daquelas emoções ridículas.
Logan: Uma pequena surpresa para você — cochichou
Logan ao ouvido de Demi, enquanto Mary conversava animadamente com Joe.
Demi deu um sorriso sem graça.
Alberto: Demi, posso servir-lhe um
drinque?
Demetria: Eu não bebo, Alberto,
obrigada. — Demi corou ao ver o olhar que Joe lhe lançava.
Logan:
Demi
sempre foi certinha demais, mesmo antes de ser professora — informou,
bem-humorado. — Não sei como podemos ser da mesma família. Vivo dizendo para
Demi que ela precisa se soltar mais, aproveitar mais a vida.
Demi não queria
tornar a encarar Joe, mas não conseguia evitar. Para sua surpresa, viu-o se
aproximar, quando Logan passou a falar com Mary.
Joseph: Como pode
mudar de personalidade assim da noite para o dia?
Demetria: Por favor — Demi implorou,
desesperada, temendo que alguém escutasse.
Mas, graças aos céus, os demais haviam se
afastado.
Joseph: "Por favor"? Parece que
já ouvi você dizer isso ontem.
Demetria: Pare. Você não está entendendo,
Joseph: Não estou mesmo. Agora, diga-me
uma coisa: o diretor da sua escola sabe que você é uma garota de programa? Sei
que professores ganham pouco, mas nunca imaginei que pudesse complementar o
orçamento com esse tipo de aula particular.
Demetria: Não, você...
— Demi pretendia dizer a Joe que tudo não passava de um lamentável engano, mas
o tom intenso dele chamou a atenção de Logan, que interrompeu a conversa com
Mary Johnson e olhou para a prima, preocupado.
Sabia o quanto ela era passional em
relação à escola, mas não esperava ouvi-la discutir com Joseph assim tão cedo.
Não causava uma boa impressão.
No entanto, antes que Logan tivesse tempo
de interferir com algum comentário diplomático, Mary anunciou que o jantar
seria servido.
Logan:
Está
simplesmente delicioso! — exclamou, comendo o pudim. — Morar sozinho é bom, mas
nada como uma comida caseira. O microondas é prático, mas quando se cozinha em
forno convencional tudo fica bem mais saboroso. Vivo dizendo isso para Demi,
porém ela não se anima em cozinhar.
Demi: Se gosta de
comida feita em casa, aprenda a fazê-la — respondeu, com firmeza. — Na escola,
insisto com os meus alunos, tanto os meninos como as meninas: todos têm de ter
noções básicas de culinária.
Mary:
Acho
ótimo que tenham — apoiou Mary, virando-se para Joe.— Demi fez maravilhas com
os alunos. Quando começou, havia tão poucos que a escola corria o risco de
fechar, mas agora os pais fazem reserva para os filhos assim que eles nascem,
para garantir a vaga.
Demi
coroou, mais uma vez, quando Joe virou-se para olhá-la.
A noite toda foi uma verdadeira tortura
e, pelo visto, estava longe de terminar.
Logan: É mesmo. Demi é apaixonada pela
escola. — Logan sorriu.
Joseph: Apaixonada?
Demi sentiu o
corpo tenso de angústia ao ouvir o tom cínico de reprovação com que Joe falou
aquela palavra. Será que pretendia entregá-la?
Joseph: Oh, claro, tenho certeza de que ela é...
Alberto: Eu acho —
disse, com tranquilidade — que Demi está preocupada com o que poderia acontecer
com a escolinha, se você decidir fechar a fábrica de Frampton.
Ao notar o aborrecimento de Joe, Alberto
sacudiu um pouco os ombros.
Alberto:
Todo mundo sabe que pretende fechar uma ou
duas das fábricas, Joe, isso não é nenhum segredo. A notícia foi publicada nos
cadernos de economia dos jornais, e a declaração foi atribuída a você.
Joseph: Ainda não decidi nada sobre isso.
Demetria: Quer dizer que está pensando em
fechar nossa fábrica? — Demi não pôde deixar de indagar.
Joe franziu a testa. Durante toda a
refeição, Demi não lhe dirigia uma palavra sequer. Na verdade, nem ao menos o
fitava, mas ele sentia no ar tanto a tensão como a hostilidade dela.
O que mais o zangava era ver como Demi
era capaz de desempenhar tão bem o papel de uma professora dedicada, quando Joe
sabia muito bem quem ela era.
Deveria ser uma pessoa muito
irresponsável. Como poderia cuidar da educação e do desenvolvimento emocional
de crianças? Deveria ser uma garota muito inteligente, para conseguir enganar a
todos daquela maneira, conquistando o respeito, a credibilidade e a admiração
dos moradores da vila.
Joe tentava se
convencer de que a intensidade de suas emoções era uma reação muito natural
diante da descoberta da dupla personalidade de Demi. Se ele contasse a verdade
sobre ela... Mas claro que não faria isso. Afinal, o comportamento dele também
não foi dos mais louváveis.
Mas por que Demi fez aquilo? Por dinheiro,
talvez, como imaginou a princípio? Porque gostava de viver perigosamente?
Porque queria ajudar Jeremy Discroll? Por algum motivo, Joe considerava a
última hipótese a mais difícil de aceitar.
Próximo Capítulo ...
Amanhã posto mais !