quarta-feira, 3 de julho de 2013

Capitulo 16 - A Virgem Sedutora

Ao colocar o fone no gancho, Joe se permitiu, enfim, dar um sorriso, depois de meia hora de uma conversa diplomática com a polícia.

Antes disso, falou, também por telefone, com Jeremy Discroll, durante cinco minutos. Foi um diálogo tenso, no qual Joe, determinado, informou-o de sua intenção de processá-lo por invasão de propriedade, caso Jeremy acusasse Demi do que quer que fosse. Será que ele, Jeremy, tinha alguma evidência da agressão que disse ter sofrido, tal como a marca que Demi trazia no braço? Jeremy retrucou, tentando contra-atacar, mas no final foi obriga­do a desistir.

Negociar com a polícia foi bem mais difícil. Para começar, o superintendente afirmou, com toda a frieza, que não gostou nada de ter tido de arcar com os altos custos resultantes daquela manifestação, um dinheiro que faria falta ao orçamento da polícia. Além disso, seria obrigado a deixar bem claro para a população que não toleraria atos de violência como aquele.

Joe argumentou que tudo foi planejado para ser pacífico, tanto que ele mesmo se comprometeu a se encontrar com os operários naquela manhã e não pretendia fazer queixa dos manifestantes. Portanto, o assunto poderia muito bem ser arquivado.

No final, nenhum manifestante foi preso, Joe acabou descobrindo, Demi teria sido a única a ir para a cadeia e a ser indiciada, tão só por causa da acusação absurda de Jeremy Discroll.

A polícia acabou por concordar que, se Jeremy desistiu de acusar Demi, não havia mais nada contra ela e, nesse caso, não precisaria voltar à delegacia para prestar depoimento.

Joe constatou que faltava apenas uma hora para seu encontro com os trabalhadores e que ainda tinha algo delicado e importante que queria discutir com Demi.


De banho tomado e roupa limpa, Demi hesitou, no topo da escada. Embora tivesse fingido estar dormindo, percebeu a hora em que Joe saiu da cama.
Como pode incorrer no mesmo erro duas vezes? Afinal, era uma mulher inteligente!

Estava angustiada com o que poderia acontecer com ela depois que fosse à delegacia, mas o que a angustiava ainda mais eram suas dúvidas a respeito do que sentia por Joe.

Seus sentimentos por ele... Quando teria a coragem de assumir que aquilo era amor?

Um pequeno som, algo como um não e um gemido, re­tiniu em sua garganta. Se ao menos a noite anterior não tivesse sido tão perfeita... Se ao menos a intimidade com que tanto sonhou não houvesse sido compartilhada com o homem de seus sonhos! Se Joe fosse diferente, se tivesse feito algo que justificasse seu afastamento dele...

Olhava para os degraus, distraída, quando Joe apareceu na sala, tirando-lhe o fôlego e fazendo-a se arrepiar diante da força da paixão que nutria por ele.

Joseph: Acabei de falar com a polícia.

Demetria: É, eu não esqueci de que preciso voltar à delegacia — Demi se apressou em dizer.

Com esforço, ela conseguiu forjar uma expressão de orgulho, na esperança de demonstrar que estava preparada para enfrentar o depoimento.

Demetria: Não sei bem quais são os procedimentos, mas creio que terei de contratar um advogado.

Joseph:  Não será preciso —  a interrompeu, ao ver o rosto pálido que Demi se esforçava por disfarçar. — Está tudo bem. O chefe da polícia me falou que não há mais necessidade de você comparecer.

Joe, sem saber bem por que, resolveu não contar a ela o papel decisivo que ele teve nessa decisão. Pareceu-lhe que era o mais sensato a fazer no momento.

Demetria: Não tenho de voltar lá?

Não era apenas a voz dela que tremia agora, mas o corpo inteiro. Ao perceber isso, Joe quis abraçá-la, dizendo que não deixaria que nada de mal lhe acontecesse, que não permitiria jamais que ninguém a magoasse. No en­tanto, conteve-se a tempo, mesmo depois de ter dado vá­rios passos na direção dela.

Demi achou que interpretou errado o que ouviu de Joe.

Demetria: Está dizendo que não vou precisar ir lá hoje?

Joseph: Não. Digo que não precisará voltar mais lá. Acabou. Não se preocupe mais com isso.

Demetria: Mas... e Jeremy ?

Joseph: Parece que ele mudou de idéia e desistiu de indiciá-la. — Joe se virou para o outro lado logo em seguida.

Não queria de jeito nenhum que Demi sentisse que lhe devia um favor por ter falado com Jeremy. Sabia muito bem que na véspera a forçou, pelo menos emocionalmente, a fazer amor. Quando chegasse o momento de re­velar tudo o que sentia por ela, não queria que Demi se visse pressionada.

Acreditava ter o direito de explicar o que sentia e aonde havia chegado, apesar de ter lutado muito contra seu co­ração, em parte porque a princípio a julgou mal. Porém, não usaria nenhum tipo de chantagem para convencê-la a falar que sentia o mesmo por ele.

O fato de terem ou não dado origem a um novo ser dentro dela era um outro detalhe, que seria discutido na ocasião apropriada. Por enquanto, tudo o que Joe sabia era que faria o possível para estar presente na vida dessa criança.

Joseph: Terei de sair daqui a pouco. Mas antes gostaria de conversar com você.

Ela sentiu o estômago se contorcer e uma fria sensação de pavor percorrer-lhe as veias.
Sabia o que estava por vir, claro. Ele diria que a noite anterior tinha sido um erro.

Demi se preparava para o baque que estava prestes a sofrer.

Joseph: Vamos até a cozinha. Fiz café, e você deve estar com fome.

Demetria: Entendi que estava atrasado para sair — Demi ten­tou protestar, ao seguir Joe.

Joseph: Tenho um compromisso, mas podemos falar enquanto você come.

Demi sabia que não tinha condições de colocar nada na boca, mas deixou que Joe lhe servisse um prato de leite com cereal e uma xícara de café.

Joseph:  Quando nos encontramos pela primeira vez, eu a julguei muito mal, cometi um erro grave. — Joe parou, como se buscasse as palavras certas.
Demi começou a ficar mais tensa, na defensiva.

Joseph: Estou preocupado, porque, devido às circunstâncias daquele primeiro encontro, nós dois nos esquecemos de nos precaver das possíveis consequências de nosso ato e não tomamos nenhuma medida para evitar... — Joe balançou a cabeça. — O que estou querendo dizer é que, se existe alguma chance de você estar grávida, teremos de tomar alguma medida. Não quero que você...

Grávida! O coração de Demi parecia querer saltar do peito. Encarou Joe, chocada e muda. "...teremos de tomar alguma medida..." Esforçava-se para assimilar o significado daquela frase. Será que ele por acaso pensava que, se estivesse grávida, seria capaz de sequer cogitar atentar contra essa nova vida? Jamais concordaria com algo as­sim! Jamais!

Ficou perplexa. Esperava ouvir que o que houve foi um equívoco, um impulso do qual Joe se arrependeu, um encontro sexual, sem nenhum significado maior, nada sé­rio. No entanto, descobrir que ele se adiantou a ponto de imaginar o que faria se ela estivesse grávida... isso era demais!

Demi ficou furiosa e considerou aquela atitude pior do que qualquer coisa que Joe já havia dito ou feito.

Ele tinha medo do quê, afinal? De ser pai de uma criança que não desejava? De ter de pagar pensão ou de ser cobrado de alguma maneira? Que tipo de mulher achava que ela era?!

Demetria:  Não existe a menor chance de eu estar... nesse estado, Joe.

Demi  se perguntava como poderia continuar a amá-lo depois disso.

Ela foi tão clara que Joe franziu a testa. Será que se precipitou ao concluir que Demi, só por ser inexperiente, não se previna contra uma possível gravidez?
Contudo, quando deu por si, Joe ouviu-se dizer com insistência.

Joseph: Mas aquela noite que passamos juntos foi sua primeira vez e...

Demetria: Como conseguiu descobrir isso?! — Irritou-se ainda mais, por ter, sem querer, confirmado a suspeita dele. Sem esperar pela resposta, continuou: — Bem, o fato de eu ser... de ter sido minha primeira vez não quer dizer que engravidei.

Demi se levantou e saiu da cozinha.

Demetria: Vou pegar as minhas coisas e irei para casa agora mesmo. E nunca mais quero vê-lo de novo! Desde que veio para Frampton, só trouxe sofrimento e tristeza e  trans­formou a vida de todos num verdadeiro inferno, Joseph. E, para seu governo, fique sabendo que, se eu tivesse um filho, jamais o obrigaria a carregar o fardo de ter um pai como você!

Joseph: Tem certeza de que está bem?

Indignada, Demi observou Joe abrir a porta do carro para ela. Seria muito humilhante aceitar que a levasse para casa, depois de tudo o que aconteceu entre os dois, mais aceitou.

Demetria: Sem dúvida ficarei melhor aqui sozinha do que se ficasse na sua residência, como ontem, não concorda? — provocou-o, já que Joe insistia em carregar a mala até a entrada e esperou para que entrasse em segurança.

Cedendo à tentação de vê-lo sair, a distância, dirigindo o automóvel, Demi sentiu um frio no estômago, temendo por seu futuro e irritada consigo mesma.

Era mesmo madura demais para se deixar levar por esse tipo de confusão emocional.


Ao se afastar da casa de Demi, Joe percebeu que estava tenso, com o maxilar travado.

A última coisa que gostaria de fazer no momento era sentar-se à mesa de negociações para conversar com os operários da fábrica. Em vez disso, queria pegar Demi nos braços e tentar explicar como seria sua vida sem ela.


Mas isso haveria de ser demais para quem prometeu não fazer nenhuma chantagem emocional, concluiu com uma careta. No entanto, os comentários de Demi, dizendo que não o aceitaria como pai de um filho dela, magoaram-no, e muito. Por pouco Joe não falou que a história que ouviria seria bem outra, se ela se permitisse ouvir a voz do próprio corpo.

Joseph: Porque não tenho a menor dúvida, Demetria! Você me quer!

Para seu espanto, Joe percebeu que falava sozinho dentro do veículo.

Joseph: Não é à toa que o amor é considerado uma espécie de loucura.




Próximo Capitulo....